Abrindo a caixa de pandora da empresa familiar – Por Aleteia Lopes

Especialista em gestão de empresas familiares

*Coluna por Aletéia Lopes, 23/05/2022

Uma das maiores resistências que as famílias empresárias têm em realizar um trabalho de Governança Familiar, é justamente a decisão de abrir a Caixa de Pandora, porque isso implica em lidar com problemas, os quais muitas vezes estão guardados durante décadas e ninguém têm ideia das proporções que os problemas acabaram tomando abafados no interior da caixa.

A decisão de abrir uma caixa que está fechada há tanto tempo é difícil, mas, ao mesmo tempo, a família sabe que precisa fazê-lo, porque quanto mais demoram a abrir a caixa, mais os problemas se agravam e se multiplicam dentro dela.

Enquanto insistem em negar a urgência de abrir a caixa, tentam resolver os problemas sem confrontá-los, de fato. É como tentar domar uma fera a distância. Praticamente impossível. Até imaginam que podem resolver suas questões sem levantar essa tampa, e por isso tentam organizar só a empresa, blindando o patrimônio, criando holdings, implantando algumas soluções e até acordos jurídicos. É como se dissessem:

— Abrir essa caixa é uma medida precipitada. Não precisamos nos desgastar tanto. Vamos conseguir resolver nossos problemas sem passar por tanto estresse.

A questão é que eles não se dão conta que estão apenas mantendo os problemas naquela caixa e eles continuarão crescendo, onde um se junta ao outro e gera um terceiro problema, até que não cabem mais lá, e enfim, explodem. Enquanto a explosão não ocorre, os problemas vão resultando no engessamento desses processos. Mas por quê? Porque grande parte das soluções mais eficazes para os problemas dessa família está na abertura dessa caixa.

Prova disso é que inúmeros advogados tentam fazer acordo de sócios, mas, a maioria das negociações acabam paralisadas em razão de divergências familiares.

— Mas como pode? Por causa disso, vocês não vão assinar o acordo de sócios? – questionam os advogados aos seus clientes.

Obviamente que olhando de maneira mais superficial, o motivo desse entrave pode parecer sem qualquer fundamento. Porém, quando há o cuidado de conhecer mais sobre o histórico da família, é possível compreender a raiz de muitos dos problemas dentro daquela caixa. Segredos, alianças invisíveis, efeitos transgeracionais, ressentimento, mágoa, o dito e o não dito… Está tudo ali. É delicado, é doloroso, precisamos reconhecer. Mas, enquanto a família relutar em não tratar dos problemas, só os fará crescer.

A maior dificuldade que a família empresária tem é a de reconhecer que precisa abrir essa caixa, porque tem medo do que pode sair dela. Às vezes, eles precisam lidar com a questão de que o poder subiu à cabeça de um dos filhos, o qual está roubando a todos, não dá satisfação, que se sente dono e maltrata, exclui os irmãos, enquanto ninguém tem coragem de confrontá-lo. Os irmãos têm medo de serem prejudicados na empresa, enquanto os pais temem que esse filho transgressor faça um escândalo.

Ninguém evita a explosão da caixa mantendo-a fechada, mas, tendo coragem de abri-la a tempo para desarmar a bomba que se formou dentro dela.

O que chamo de Efeito Pandora é se permitir resolver as questões, ainda que esse processo exija tocar em questões delicadas. Creio que assim como na história contada pela Mitologia Grega, no fundo da caixa de uma empresa familiar, apesar de muitos problemas, também está a esperança. Como disse Machado de Assis, “Ninguém tachou de má a Caixa de Pandora por lhe ter ficado a esperança no fundo. Em algum lugar há de ela ficar”.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do ENB.

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