Simbiose: cooperação para crescer – Por Marcos Hirano

*Coluna por Marcos Hirano, 16/05/2022

E cá estamos nós, mais uma vez, nos valendo da sabedoria da natureza para descrever um fenômeno do mundo dos negócios. Se você leu “Ecossistemas, natureza e inovação”, sabe do que estou falando.

Imagem: David Clode on Unsplash

Trago aqui três rápidos exemplos de simbiose vegetal, para ilustrar como a natureza aplica a cooperação entre diferentes espécies para obter benefícios e se fortalecer. Fungos e algas (cianobactérias) se unem e formam os líquens, representado pela imagem da capa desse artigo, que possuem características diferentes das de seus componentes individuais; as plantas leguminosas hospedam e fornecem oxigênio para um tipo de bactérias, que capturam o nitrogênio do ar e o transforma em amônia, que nutre as raízes dessas plantas; as orquídeas vivem em árvores e rochedos, locais com bastante matéria orgânica, mas pobre em sais minerais. Suas raízes abrigam fungos que decompõem a matéria orgânica do substrato e as transforma em sais minerais, que são assimilados pelas plantas. Essas realizam a fotossíntese e sintetizam os nutrientes para a sobrevivência dos fungos.

Ambiência

Também podemos observar diversas formas de relações cooperativas simbióticas, em que empresas se unem para obter vantagens mútuas. E esse tipo de prática não é nova. Nesse artigo vamos nos concentrar naquelas que são voltadas para o estímulo ao desenvolvimento de startups. Mas antes, é importante considerarmos que para que relações cooperativas aconteçam, é importante que haja ambiências favoráveis a elas. Nesse sentido, há iniciativas de criação e manutenção dessas ambiências, que relaciono a seguir:

Incubadoras e Aceleradoras

De acordo com dados do Mapeamento dos Mecanismos de Geração de Empreendimentos Inovadores no Brasil, estudo realizado em 2019 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Brasil conta com 363 incubadoras e 57 aceleradoras.

As iniciativas voltadas à incubação de negócios objetivam o fomento da cultura empreendedora e comumente oferecem suporte a potenciais negócios, em seu momento de maior vulnerabilidade. Costumam ser iniciativas conjuntas entre instituições governamentais, instituições de ensino e pesquisa e do meio empresarial, provendo estrutura física, acesso a rede de contatos, suporte e orientação técnico e gerencial aos empreendedores. Os empreendimentos apoiados costumam possuir uma proposta de solução inovadora para novos produtos, processos e serviços, em geral de base tecnológica.

Os programas de aceleração são feitos por ciclos com duração média entre 6 e 12 meses, em que são oferecidas mentorias para desenvolvimento de negócios, normalmente num estágio um pouco mais avançado, se comparado às incubadoras. É mais comum que as aceleradas sejam negócios com um grau de maturidade maior, com algum grau de validação no mercado, protótipos desenvolvidos e, em alguns casos, já com clientes pagantes. Alguns programas oferecem também conexão com investidores anjo, fundos de capital semente (seed), fundos de capital de risco (Venture Capital ou simplesmente VC), fundos coletivos (equity crowdfunding). Podem ainda acontecer em parceria com Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, bem como com agências federais como CNPq e Finep para acesso à linhas de recursos subvencionados. Como contrapartida, podem cobram participação percentual no negócio, também conhecido como equity, o que não é necessariamente uma regra.

Parques tecnológicos

Trata-se de espaços geográficos, em que estão concentradas instituições acadêmicas, incubadoras de negócios, centros de pesquisa e desenvolvimento com laboratórios e empresas, que estabelecem um ambiente favorável à inovação tecnológica. A promoção da Ciência, Tecnologia, Inovação e Empreendedorismo ocorre por meio de ações planejadas e estruturadas e que podem contar com apoio de programas governamentais dentro do conceito da tríplice hélice.

Hubs de inovação

São ambientes que estimulam a inovação por meio da interação entre diferentes agentes de um ecossistema de negócios, visando promover novas conexões, o surgimento de oportunidades de negócios, de parcerias e de ideias inovadoras.

Espaços de coworking

São ambientes voltados ao compartilhamento de espaços e recursos de escritório, reunindo em geral, pessoas que não querem se comprometer com custos para manutenção e gestão de salas comerciais. Costumam oferecer outros serviços, para além do compartilhamento de espaço físico e instalações tecnológicas, como secretariado, endereço fiscal, recepção e telefonista, dentre outros.

Como vantagens estão o custo reduzido, possibilidade de maior interação e desenvolvimento de rede de relacionamentos e flexibilidade, considerando que há redes que congregam diversos coworkings no Brasil e até no mundo.
Com o passar do tempo, o modelo de escritórios compartilhados foi evoluindo e hoje em dia há espaços compartilhados que exploram segmentos nichados, como por exemplo, consultórios e clínicas de saúde, serviços jurídicos, aulas particulares, engenharia e arquitetura, dentre outros.

Vantagens, riscos e desafios

As grandes corporações em geral têm como vantagens uma maior disponibilidade de capital para investimentos, mais tempo de estrada, o que lhes confere mais experiência e penetração no mercado, estruturas de gestão e operações que permitem mais robustez nas operações, dentre outros fatores. Entretanto, quando estamos falando de um contexto de mudanças aceleradas, como abordei no artigo “Estamos vivenciando a era do caos?”, muitas vezes essas grandes sofrem pela falta de flexibilidade e agilidade para enfrentar essas mudanças.

Por outro lado, os novos empreendimentos sofrem em geral, por fatores inversos como dificuldade de acesso a mercados, escassez de capital para investimentos, equipes reduzidas e falta de capacidade de execução, dentre outros. Mas da mesma maneira, por terem em geral uma estrutura bastante enxuta, mudanças também são mais fáceis de ser implementadas.

E justamente visando sanar os pontos de fragilidade e mitigar riscos, tem feito startups e corporações juntarem esforços para saírem mais fortes do outro lado. O Fórum Econômico Mundial publicou um artigo denominado “Collaboration between startups and Corporates – A Practical Guide for Mutual Understanding” (Colaboração entre startups e corporações – Um guia prático para compreensão mútua, em tradução livre), em que são apresentados benefícios, riscos e desafios para ambos os perfis de negócios.
Comente se você conhece algum caso de colaboração entre empresas e qual foi o resultado.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do ENB.

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