Hoje, o mercado de imóveis residenciais vive grandes desafios em Portugal. A guerra da Ucrânia agravou a inflação, acelerando a subida dos custos da construção civil e das taxas que impactam no financiamento imobiliário. Os preços das casas dispararam nos últimos anos, as famílias perderam poder de compra e a grande preocupação “é garantir imóveis com preços adequados para todos”, disse Marina Gonçalves, secretária de Habitação do governo português (SEH), na quinta-feira, (12), ao portal idealista/news, na inauguração do Salão Imobiliário de Portugal (SIL). Para que isso seja possível, o governo está articulado com o setor privado e, agora, aguarda que lhe “apresentem projetos acessíveis”, completou Gonçalves.
“A minha grande preocupação, que obviamente não é a preocupação só do setor, mas também de todas as famílias e dos mais jovens, em particular, é conseguirmos garantir que exista habitação com preço adequados para todos. Esta é a base de todas as políticas públicas que estamos construindo e é também a base das relações que estamos fazendo”, reconheceu a secretária.
Setor privado têm papel fundamental
Para resolver a equação de criar casas a preços acessíveis, Marina Gonçalves reconhece a importância do setor privado e, por isso, garante que tem construído uma relação de proximidade com os construtores e agentes do mercado imobiliário para articular uma resposta rápida e conjunta público-privada.
“É sempre muito importante e muito interessante conviver com o setor, mas sobretudo trabalhar com o setor para podermos fazer este tipo de equilíbrio entre a política pública e o trabalho que as empresas têm à nossa disposição. Esse é o trabalho e o nosso maior desafio é tirar do papel a vontade de sermos parceiros na promoção de políticas públicas e criar respostas que sejam efetivamente de casas acessíveis para as famílias”, explicou depois de ter realizado uma visita guiada pela feira.
A secretária de Estado da Habitação considera que os investidores privados “têm um papel fundamental na criação de políticas públicas” e, por isso, espera “que consiga trazer-los para criar novas respostas de arrendamento acessível e que a próxima vez que estejamos juntos seja para apresentarmos projetos, agora sim reais de arrendamento acessível”.
Fluxo de demanda
Para o empresário do mercado imobiliário, Paulo Angelim, diretor da cearense VivA Imóveis, que já opera no mercado português e que também esteve no Salão Imobiliário de Lisboa, na sua visão, o mercado imobiliário em Portugal está vivendo a clássica máxima de que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose.
Segundo Angelim, as várias iniciativas governamentais dos últimos anos, de dinamizar esse mercado, atraindo principalmente investidores estrangeiros, por meio de incentivos fiscais e da obtenção de visto de residência (Golden visa) para compras de imóveis acima de €500mil, por exemplo, criou um enorme fluxo de demanda, gerando desequilíbrios na oferta, nos preços, e também processos de gentrificação.
“Os preços dispararam e empurraram os portugueses, principalmente em Lisboa e Porto, para as periferias e cidades menores, carentes de oferta. Some-se a isso os efeitos recentes da inflação mundial, que está levando a incorporadores locais (os “patos bravos”) a colocarem o pé no freio, face ao elevado custo e a indisposição e/ou incapacidade dos compradores de absorverem estes aumentos”, disse o empresário.
“Este mesmo último fenômeno está acontecendo também no Brasil, o que põe em cheque o sucesso desta intenção do governo português. Agora, é aguardar”, completou.
Investidores
No evento, Paulo Angelim coordenou um grupo de empresários brasileiros interessados em investir no mercado imobiliário português.