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Cuidado onde pisa! Escolha ombros de gigantes – Por Carlos Barbosa

*Coluna por Carlos Barbosa, 08/03/2022

O mundo dos empresários, dos investidores e dos credores, ou ainda de outros stakeholders (todos os interessados no negócio), está deitado em um campo tão cheio de dados e informações, que pode causar nesses agentes de mercado sentimentos conflituosos quanto ao aspecto gerencial, especialmente hoje, com diversas ferramentas tecnológicas que agilizam a busca e o processamento de tantas variáveis. A qualidade dos dados associada à capacidade de analisar e discernir sobre a matriz de conteúdo é o que pode fazer a diferença. Alguns agentes podem subir a uma êxtase de possibilidades em direção ao sucesso e outros podem entrar em um estado de desorientação, gerando inércia e até fracasso. Invariavelmente, o comportamento mais disseminado para controlar esse ambiente administrativo-financeiro e vislumbrar um rumo para os negócios é através do uso de indicadores de desempenho (KPI) e de demonstrações Contábeis e financeiras, como o Balanço, a Demonstração de Resultado, o Fluxo de Caixa e outros. Em meio ao exposto, é fundamental lembrar que, a base de toda essa gama de conteúdo usada no mercado é alicerçada na ciência Contábil, por meio de diretrizes, padronizações ou princípios para a escrituração das origens dos recursos (próprios ou de terceiros), das aplicações dos recursos (bens e direitos) e de todos os fatos que levam ao conhecimento do resultado (lucro ou prejuízo) nas empresas.

No ano de 1494, um frei franciscano italiano, mestre em matemática, chamado Luca Pacioli, que veio a ser professor de matemática e de pintura em perspectiva de Leonardo da Vinci, publicou um trabalho que o perpetuou como o pai da Contabilidade, ao disseminar um Tratado com a lógica das Partidas Dobradas (débito e crédito), um método dos mercadores de Veneza, usado para registrar as negociações. A obra foi intitulada Summa de arithmetica, geometria, proportione et proportionalità (GLEESON-WHITE, 2012, pp 62-67). Pacioli menciona em seu trabalho que, os fatores essenciais para gerir um negócio são: focar o caixa ou equivalente; ter uma acurada escrituração Contábil; e ter uma organização sistemática no registro dos fatos que agilize a compreensão deles (GLEESON-WHITE, 2012, pp 91-93). Interessante perceber que, até hoje, tais preocupações são aderentes a boas práticas de registro de valores para possibilitar um bom gerenciamento. A ascensão e transformação do método Contábil das Partidas Dobradas é uma das mais importantes histórias mantidas sob um dos segredos mais bem guardados, considerando que esse método não apenas possibilitou o florescimento da riqueza e da cultura Renascentista como também do Capitalismo, tornando-se um sistema sofisticado de registro de valores que até hoje dita a economia mundial (GLEESON-WHITE, 2012, pp 7-8, tradução nossa).

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A riqueza gerada por um país, representada pelo indicador PIB (Produto Interno Bruto), na atualidade, só é capaz de ser medido sob os olhos da Contabilidade. Independentemente da atividade econômica, do porte da empresa, da língua falada ou da cultura de uma nação, a situação econômico-financeira das corporações é registrada pela via numérica. Porém, ainda que os números sejam a língua mundial dos negócios, ao longo do tempo cada país criou suas diretrizes e nuances metodológicas de registros Contábeis para atender a necessidades individuais. Isso atendeu aos interesses internos de cada país mas gerou grandes dificuldades de negociações entre as nações. Por conta dessa problemática, cada vez mais os países tendem a adotar normas técnicas Contábeis unificadas, de forma a que tanto a escrituração Contábil quanto as interpretações dos demonstrativos financeiros sejam inequívocas e confiáveis. Na atualidade, existem duas grandes vertentes de padrões Contábeis que são referências nos mercados mundiais: o IFRS (International Financial Reporting Standards), cujos padrões são regidos pelo IASB (International Accounting Standards Board), aplicados na União Européia, América do Sul e algumas partes da Ásia e África, totalizando mais de 140 países; e o US GAAP (United States Generally Accepted Accounting Principles), cujos princípios são estabelecidos pelo FASB (Financial Accounting Standards Board), aplicado nos Estados Unidos da América. Desde 2007 até o momento, o Brasil vem adotando o modelo de padronização do IFRS, a partir da edição da Lei 11.638/07, que exige que as empresas sigam as normas internacionais, e culminou com a Resolução 1.055/05 do CFC (Conselho Federal de Contabilidade), que criou o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) para convergir as regras Contábeis brasileiras ao padrão do IFRS.

Ainda que exista um grande esforço colaborativo de órgãos competentes em prol da qualidade e transparência dos registros contábeis e da apresentação das demonstrações financeiras, embasado em preceitos éticos, o mercado das negociações ainda apresenta muitos desvios de condutas Contábeis, com o fim de burlar os resultados financeiros. Segundo a revista The Economist (2019), nos anos 2000, alguns exemplos desse tipo de escândalo Contábil foram: a empresa americana de energia Enron, em 2001; a empresa americana de telefonia WorldCom, em 2002; a empresa irlandesa-americana de seguros Tyco, em 2016; a grande fraude das hipotecas que envolveu as instituições financeiras e outros agentes, eclodida em 2007; dentre outras fraudes. Por conta de fraudes como estas, em 2002 foi criada, nos EUA, a Lei Sarbanes-Oxley, cujo objetivo era mitigar riscos, através de um trabalho de governança corporativa que garantisse compliance. Ela também limitou a prestação de serviços de Consultoria ou de outros que não são de Auditoria por uma empresa de Auditoria, a fim de evitar conflitos de interesse (THE ECONOMIST, 2012). A busca pela continuidade das corporações, precipuamente ditada pela lucratividade acima de qualquer coisa, acaba por trazer conflitos que, por vezes, degradam a moralidade.

A gestão dos negócios largamente se utiliza de diversos recursos técnicos, com desempenho literário reconhecido, desde indicadores de desempenho, a relatórios gerenciais e demonstrativos Contábeis e financeiros. As relações econômico-financeiras mundiais cada vez mais tendem a ser discutidas de maneira globalizada, sob um mesmo prisma de entendimento. Em face do exposto até aqui, fica evidente que, mesmo que os stakeholders tenham em mãos as ferramentas de performance desejadas e as respectivas análises e controles estejam sendo efetivados, se as regras, padrões ou princípios Contábeis não estejam fundamentando os registros dos dados, todo esse acervo gerencial vai ser em vão e servirá apenas para iludir os interessados com belas apresentações frágeis como vidro. Isso mostra quão fundamental se faz a preocupação com a qualidade da Contabilidade nos negócios, uma ciência que nasceu de um gigante oculto que ultrapassou barreiras e transformou o mundo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FACPC. http://www.facpc.org.br/FACPC/FACPC/Conheca-FACPC

FASB. https://www.fasb.org/facts/

GLEESON-WHITE, J. Double entry: how the merchants of Venice created modern finance. W. W. Norton & Company, Inc., 2012. Ebook.

IFRS. https://www.ifrs.org/about-us/

Scandals suggest standards have slipped in corporate America. The Economist. Abr. 2019

The Big Four accounting firms Shape shifters. The Economist. Set. 2012

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do ENB.

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