A nova geração de herdeiros – Por Aletéia Lopes

Especialista em Gestão de empresa familiar herdeiros

 

*Coluna Semanal – Por Aletéia Lopes – 28/02/2022

Dentro da metodologia da HerdArs – Escola de Herdeiros, sou muito abordada por pais que querem entender por que a forma como foram introduzidos no negócio familiar, hoje não tem mais a mesma eficácia com as novas gerações

E agora! Como essa nova geração de herdeiros deve ser introduzida na empresa familiar?

Diferente do que muitos pensam, a vida do herdeiro da nova geração não é composta só de facilidades. Aliás, podem até existir as facilidades financeiras, mas além disso, os desafios são inúmeros, principalmente no tocante ao seu desenvolvimento de carreira dentro de um mundo VICA (Volátil, incerto, complexo e ambíguo).  

O primeiro desafio é conhecer o negócio familiar e vivenciar outros negócios não-familiares.

Eu coloco esse desafio como o primeiro passo a ser dado pelo herdeiro, porque é justamente o que vai levá-lo a decidir com convicção, se a sua carreira será como sucessor dentro da empresa ou não. Afinal, ele não pode dizer que quer ou não algo, se ele não conhece bem o algo. Então, no caso de um herdeiro, para ele aceitar ou recusar a sucessão da empresa de sua família, primeiro tem que conhecer cada setor desse negócio. Mas esse momento deve ser conduzido da forma mais profissional possível, o herdeiro não deve ser “jogado” dentro da empresa e nem ficar solto, sem metodologia e suporte, pois isso vai entediá-lo e poderá desenvolver no herdeiro uma aversão pela empresa, afinal estamos lidando com uma geração com muita disponibilidade de informação e tecnologia. Uma geração “gamificada” que tem como maior estímulo a possibilidade de desafios concretos.

Além disso é importante ter uma vivência sobre outros negócios que não sejam da sua família empresária para ter experiências de aprendizado sobre: hierarquia, assiduidade, pontualidade e principalmente entender como funcionam outros negócios para poderem construir uma relação de benchmarking entre setores produtivos diferentes, mas com estruturas organizacionais semelhantes. 

O segundo desafio é trabalhar o autoconhecimento do herdeiro através de assessment

É preciso que o herdeiro tenha um posicionamento mais detalhado sobre seu perfil e suas habilidades. Para isso, mesmo ainda jovem os herdeiros devem trabalhar seu autoconhecimento através de testes vocacionais e de carreira. E mesmo os testes não sendo deterministas, eles sempre ajudam os jovens herdeiros a pensarem sobre si mesmos, seus talentos e aptidões, e decidirem com mais autoridade sobre sua carreira e vida profissional. Deixando de lado possíveis “achismos” que seus parentes possam relatar sobre sua personalidade e forma de agir, muitas vezes contaminadas por rótulos do senso comum. Exemplo: “Ah, meu neto! você é expansivo, vai se sair muito bem no setor comercial da empresa”. 

Assim, depois que o herdeiro conhece os negócios da família e recebe orientação de perfil por meio dos testes vocacionais e de carreira, isso ajuda o herdeiro a ter mais clareza das possibilidades que mais se adequam ao seu perfil.

O terceiro desafio é fazer a sua escolha profissional de forma consciente. 

É aqui que reside a grandeza desse desafio, essa escolha tem que ser feita independente da empresa da sua família.

Vamos supor que a escolha profissional desse herdeiro seja a área de saúde. Ele já percebeu que tem todo um perfil para atuar nessa área, ele gosta de cuidar. Mas quando ele conheceu os negócios da família, descobriu que a empresa da família está na área de agronegócio. Então se a empresa do pai dele atua nessa área e ele sabe que tem inclinação para a área de saúde, talvez ele ainda tenha uma opção de trabalhar com a família e ainda assim fazer o que gosta, como por exemplo, partindo para a medicina veterinária. Mas reitero que essa decisão precisa ser tomada por ele, independente da família. Caso ele decida, por exemplo, cursar medicina para cuidar de pessoas e não animais, também precisa deixar isso bem claro para seus familiares.

Se a família conseguir vivenciar o desafio 3 com liberdade, diálogo e respeito, ela estará investindo na sua harmonia futura, tanto no ambiente familiar como no ambiente empresarial.

O quarto desafio é depois da escolha profissional consciente, decidir que tipo de herdeiro quer se tornar: Herdeiro investidor, acionista ou sucessor.

No caso do herdeiro que escolheu seguir a carreira de veterinário, vamos supor que ele queira ter a própria empresa, uma clínica veterinária. Ele pode prestar serviços para o agronegócio do pai dele. Agora, se ele quiser seguir a linha de sucessão, precisa, além da formação acadêmica em medicina veterinária, investir em conhecimento de gestão. Por quê? Porque vai ter que assumir funções de gestão no agronegócio, e não só cuidar tecnicamente dos gados ou dos cavalos. Isso envolve venda de sêmen; acompanhar o cruzamento de cada raça; frequentar os leilões de animais; ver como estão as ações na bolsa de valores. 

    Já em outra decisão, se ele optou por ser um herdeiro acionista, talvez nem precise passar pelo local onde ficam os animais. Ele já tem ali cerca de 30 veterinários para conhecer o negócio do pai dele. Se vai então ser um acionista, seu preparo será focado para orientar, dar sugestões, dar opiniões mais estratégicas e mercadológicas nas reuniões de conselho de sócios. 

    Então veja que o herdeiro precisa dar estes 4 importantes passos e cada um deles é um desafio em particular. Conhecer o(s) negócio(s) da família e outros negócios não familiares, fazer testes vocacionais e de carreira para se autoconhecer e assim ter mais certeza de suas aptidões, escolher sua profissão independente da empresa da família, e depois decidir que tipo de herdeiro ele vai ser, sucessor, acionista, técnico, gestor ou investidor. Isso tem que ficar bem claro, porque cada papel vai exigir do herdeiro um desempenho totalmente diferente. 

Assim, esteja ele ligado ou não à empresa da família, ele precisa se desenvolver profissionalmente para que ele possa ser bem-sucedido em sua carreira. Obviamente que ele, como herdeiro, sempre estará ligado ao patrimônio, pois isso lhe é garantido por direito. Mas quanto à gestão, ao envolvimento no negócio, ele vai precisar deixar claro se quer, e como quer, se envolver com os negócios da família. E independente da sua decisão, se desenvolver profissionalmente.

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Economic News Brasil.

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