Durante muito tempo, o conceito de herdeiro teve sua imagem distorcida, associada à figura estereotipada do ‘playboy’, aquele que simplesmente herdou o patrimônio dos pais, sem qualquer esforço, e não derrama uma gota de suor para mantê-lo ou fazê-lo crescer. Infelizmente, este contexto ainda é comum. Muitas pessoas preferem usar o termo “novo líder empresarial” por terem preconceito com o nome herdeiro.
Eles floreiam, por quê? Justamente devido a essa imagem preconceituosa sobre o herdeiro. Mas será que herdar um patrimônio só implica nos privilégios de uma vida fácil, às custas das conquistas dos antecessores? Tenho certeza que não. O conceito de herdeiro pela lei é alguém que herda. Então, não interessa se ele quer ser um playboy, um super profissional, se vai seguir linha de sucessão ou não. Herdeiro é aquele que herda um patrimônio ou está apto a herdar um dia. Se o pai tem alguma coisa para deixar ao seu filho, este é o herdeiro, indiscutivelmente.
O preconceito ainda existe, mas é preciso quebrar estes conceitos distorcidos, porque ser um herdeiro implica em muito mais que as facilidades de uma vida abastada, pois traz consigo decisões e responsabilidades importantes.
Algumas dessas decisões importantes já estão diretamente ligadas ao momento em que ele está prestes a assumir sua herança, como por exemplo, “ele permanece somente como herdeiro ou vai se tornar um sucessor“? Ele vai herdar algo, isso é fato, mas o que ele vai fazer com essa herança, cabe a ele decidir. É ele quem deve dizer se vai assumir a administração do patrimônio herdado, se vai vender ou até mesmo doar.
Herdeiro é aquele que herda por direito, já o sucessor é aquele que decide suceder seu antecessor na administração do patrimônio, assumindo a sucessão de um negócio e traçando a trajetória para um dia ser o líder daquela empresa.
Mas será que, na prática, esta decisão é tomada livremente? Infelizmente não. O mais comum dentro das empresas familiares é a realidade na qual os pais querem transformar todos os herdeiros em seus sucessores, o que provavelmente não vai acontecer.
Na verdade, nem sempre as coisas acontecem de forma tão natural assim, justamente porque as pessoas acreditam que herdeiro e sucessor são a mesma coisa. Esse contexto de desinformação pode ser mais uma ameaça à estabilidade de uma empresa familiar, pois se o filho assumir os negócios do pai sem conhecimento e liberdade de escolha, pode se tornar um gestor despreparado e desmotivado e desta forma a empresa está fadada ao fracasso.
Portanto, herdeiro é alguém que tem um patrimônio para herdar (grande ou pequeno) e precisa ter autonomia para decidir como pode contribuir com o crescimento desse patrimônio. E essa é uma decisão que só cabe ao herdeiro!
*Opinião – Artigo por Aletéia Lopes, escritora e diretora da HerdArs com experiência em projetos de governança para Famílias Empresárias e formação de Herdeiros/Sucessores. Mentora estratégica de executivos familiares e mediadora de conflitos. Graduada em Serviço Social, com formação em Mentoring, Coaching, Constelação Sistêmica e Terapia Familiar. Membro do Instituto Brasileiro de Governança corporativa – IBGC/Ce. Diretora de Governança da Câmara de Comércio e Indústria Brasil e Alemanha no Ceará – CCIBAC.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do ENB.
