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Empreendedorismo Feminino: crescimento e desafios

Joyce Moura - Fundadora da Realize Comunicação. Uma empresa liderada e formada só por mulheres. Foto: Jeane Meire
Joyce Moura - Fundadora da Realize Comunicação. Uma empresa liderada e formada só por mulheres. Foto: Jeane Meire

Mesmo em meio à crise sanitária em que o mundo se encontra, o número de mulheres empreendedoras cresceu no Brasil. De acordo com uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo, em 2020 houve um aumento de 40% no número de micro e pequenas empresas abertas por mulheres. Os dados do Sebrae superam o ano anterior.

Uma pesquisa realizada pela Global Entrepreneurship Monitor mostra que o país tem aproximadamente 30 milhões de mulheres empreendedoras, ou seja, esse número representa cerca de 48,7% de todo o mercado empreendedor.

Desafios

Apesar dos números e do nível de escolaridade superior aos homens em 16%, as mulheres ainda ganham menos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), comandada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em 49 países o Brasil tem a 7º maior proporção de mulheres entre os empreendedores iniciais. Ainda de acordo com a pesquisa 25% empreendem em casa, tomam menos empréstimo com valor médio igualmente menor. O valor médio do empréstimo para mulheres é de R$ 13.071, menor que o dos homens. Pagam taxas de juros maiores, a taxa anual para mulheres empresárias é de 3,5 pontos percentuais acima dos donos de pequenos negócios. A taxa e inadimplência dessas mulheres é menor que o percentual praticado pelos homens. A pesquisa mostra ainda que 48% dos MEIs que existentes no país são mulheres.

De acordo com a empresária Joyce Moura, quando um homem vê uma mulher competindo pelo mesmo espaço ele se sente ameaçado e acaba desvalorizando o trabalho. “Muitos homens não dão ouvidos às mulheres. Já passei situações de dizer algo, não ser ouvida e dois minutos depois um homem falar a mesma coisa e ser ouvido.” comenta a sócia da Realize Comunicação, uma empresa formada só por mulheres.

Definir o nicho feminino tem sido uma alternativa para não lidar com situações parecidas, é o que afirma a também sócia da Realize, Laíse Lira. “Temos que matar um leão por dia. Nós definimos nosso público porque as mulheres se sentem mais confortáveis com mulheres. Não é que não atendamos homens mas a relação se dá de forma diferente. Dá pra sentir. Isso da parte do cliente e da gente mesmo” analisa a Social Media.

Áreas que são, ou que costumavam ser, majoritariamente masculinas não estão acostumadas a ter mulheres em posições de liderança, como é o caso da publicidade e da política. Joyce Moura começou a empresa focada no Marketing Político e agora atua também na área de publicidade, um setor que, por muitos anos passou a objetificar as mulheres nas propagandas, e no mundo político também não é diferente. “É uma área muito masculina e para a mulher consultora de Marketing Político, ser ouvida é um grande desafio.” afirmou a jornalista, especialista na área.

Programas de incentivo

Camila Garcia Tashiro veio de uma família de empreendedores. Foi uma das 500 mulheres selecionadas em todo o Brasil pela Organização das Nações Unidas para realizar o curso Ganha-Ganha: Igualdade de Gênero Significa Bons Negócios, realizado pela ONU Mulheres. A empreendedora enfrentou dificuldades no percurso dos projetos.

“Como amante do empreendedorismo, já atuei em mercado totalmente masculino e sofri preconceito por ser mulher. Já fui chamada de louca. Mas já tive grandes momentos reconhecimento. Já liderei rede de fomento ao empreendedorismo feminino, formei e acelerei empreendedoras.” conta, com orgulho, Camila Tashiro.

Atualmente representa como Embaixadora brasileira a FIJE, Federação Ibero Americana de Jovens  Empresários, com sede na Espanha.  A instituição responsável pelo interesses de 150 mil  empreendedores em 17 países. Embaixadora também da CONAJE, Confederação Nacional de Jovens Empreendedores, que representa 40 mil jovens empresários no mundo, e faz parte da delegação brasileira da Aliança Global de Jovens Empreendedores do G20.

Camila Tashiro estudou Psicologia Organizacional, Gestão de Negócios, Consultoria Empresarial, Coach de Vendas e é Especialista em Linguagem Corporal e Microexpressões não verbais, PNL, Hipnose hericksoniana e transformacional.
Camila Tashiro estudou Psicologia Organizacional, Gestão de Negócios, Consultoria Empresarial, Coach de Vendas e é Especialista em Linguagem Corporal e Microexpressões não verbais, PNL, Hipnose hericksoniana e transformacional.

“No Brasil, 24 milhões de mulheres empreendem em comparação a 28 milhões de homens. Metade dos lares são sustentados por mulheres que empreendem e, muitas vezes, precisam conciliar o tempo com família, serviços da casa, filhos, marido e ou namorado. Precisam lidar com a falta de incentivo e apoio da família, dificuldade ao crédito, falta de educação financeira, falta ou dificuldade de network, vendas e marketing.” Camila Tashiro.

Avanços, conquistas e lutas

As empresas brasileiras estão criando e melhorando políticas e métricas de diversidade. A agenda de diversidade de gênero é prioridade para 66% dos CEOs, de acordo com a pesquisa “Mulheres da Liderança”, realizada pelos jornais Valor Econômico e O Globo e pelas revistas Época Negócios e Marie Claire, em parceria com o Instituto Ipsos. Das 162 empresas avaliadas, 65% delas aumentaram a proporção de mulheres na diretoria ou vice-presidências, 41% relataram reduzir a disparidade salarial entre homens e mulheres por nível hierárquico e cerca de 30% levaram a pauta para a cadeia de valor, ampliando seu alcance. Em 2020, 63%das empresas pesquisadas disseram possuir uma área de diversidade com orçamento (versus 47% em 2019) e 44% nas posições de gerência e executivas, um aumento de dez pontos percentuais em relação ao ano anterior.

Em janeiro, o banco Goldman Sachs anunciou uma nova política de negócios na área de estruturação de ofertas iniciais de ações (IPOs) que determina que, a partir de julho, a instituição só faria operações de empresas que tenham um conselho de administração “diverso”, com ao menos uma mulher.

Pela primeira vez, todas as empresas que compõe o índice de ações americanas S&P 500 tem ao menos uma mulher no conselho. O dado foi revelado em dezembro em uma pesquisa da consultoria Spencer Stuart Board e se baseia em declarações apresentadas por empresas entre 24 de maio de 2019 e 20 de maio último. Mesmo assim, elas representam apenas 28% de todos os conselheiros do S&P 500.

A própria Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está propondo na revisão da Instrução 480, que regulamenta as informações que as companhias de capital aberto precisam prestar todo ano, a inclusão de tópicos quantitativos e qualitativos sobre diversidade de gênero e raça.

Em dezembro, a Nasdaq apresentou à SEC, a CVM americana, a proposta que obriga empresas listadas a adotar e divulgar medidas de ampliação da diversidade em seus conselhos de administração. Se for aceita, as 3249 empresas listadas em sua bolsa de valores precisão ter ao menos uma mulher e um(a) diretor(a) ligado(a) às causas minoritárias ou LGBTQ+.

A questão de diversidade é pauta de grandes empresas. A Petrobras lançou em dezembro seu primeiro Plano de Equidade de Gênero com ações para a promoção da diversidade. Além do programa de mentoria para lideranças femininas, que tem o objetivo de apoiar o desenvolvimento de mulheres a cargos mais altos, o plano prevê ainda monitoramento de dados e uma pesquisa de diversidade e inclusão. A empresa também pretende criar grupos de afinidade e outras frentes de capacitação e sensibilização. Atualmente, as mulheres representam 17% do efetivo da companhia. Do total de líderes, em todas as posições hierárquicas, as mulheres somam apenas 15%.

O grupo de serviços financeiros e investimentos XP Inc. anunciou em julho a meta de chegar ao percentual de 50% de mulheres em seu quadro de funcionários, em todos os níveis hierárquicos, até 2025. Na ocasião, a empresa disse que tinha apenas 22% de mulheres entre seus 2,6 mil funcionários, sem distinção de salários. Entre as ações para bater a meta, estão a criação do coletivo feminino MLHR3; fomento de grupos/comunidades internas para discussões e implementação de ações; treinamento para lideranças; mentoria de carreira para mulheres; revisão de políticas internas de vagas e avaliação de desempenho; licença a maternidade e paternidade estendida e a possibilidade de trabalho remoto para todos os colaboradores.

A Microsoft Brasil começa a investir, por meio de seu braço de venture capital e do fundo FIP Capital Semente Inova WE , em startups que tenham ao menos uma mulher entre os sócios. E para se certificar que a presença feminina na empresa não seja mera figuração, o fundo pede ainda que esta mulher tenha ao menos 20% de participação na empresa e que ela esteja ao menos em cargo de diretoria. Uma inspiração para outros fundos, já que só 15% das startups brasileiras são lideradas por mulheres.

A Telefônica Brasil, controladora da Vivo, quer atingir a meta de 30% de mulheres em posições de alta liderança em 2021. Entre 2017 e 2020, a presença feminina nesses cargos cresceu oito pontos percentuais, para 25,4%. Desde 2019, a operadora passou a vincular a meta de percentual de mulheres em cadeiras de alta liderança ao bônus dos executivos e o conselho acompanha periodicamente a evolução dos números. No quadro total de funcionários da operadora de telefonia, 42% hoje são mulheres.

A Volkswagen global quer atrelar bônus de executivos do alto escalão às metas ambientais, sociais e de governança, ou ESG na sigla em inglês, cada vez mais valorizadas por investidores.

Gestão de investimentos – Foram lançados ao menos três novos fundos de investimentos com ativos focados em igualdade e equidade de gênero: Warren Equals FIA, da Warren (patrimônio de R$ 12 milhões); Fundo W-ESG (patrimônio de R$ 8 milhões), de Franklin Templeton e Vitreo; e Trend Lideranças Femininas, da XP (patrimônio de R$ 8 milhões).

Mulheres e competitividade

Ter mulheres no quadro de gestão de recursos pode ser um diferencial competitivo. É o que mostra um estudo do banco Goldman Sachs feito a partir de análise de 496 grandes fundos de investimentos do tipo multimercado nos Estados Unidos que juntos somam US$ 2,3 trilhões sob gestão. Ao cruzar dados de rentabilidade com o perfil da equipe de gestão, eles chegaram à conclusão de que os fundos que têm ao menos um terço da sua equipe de gestão formado por mulheres conseguiu uma rentabilidade de 1 ponto percentual maior do que aqueles sem mulheres no quadro, isso em 2020.

Redes de apoio

Pensando nessas dificuldades de crescer diante de um cenário desfavorável, as mulheres estão se organizando em redes. Sistemas de apoio compostos de mulheres que apoiam mulheres. Nesses quadros, ajudar uma mulher que oferece o mesmo serviço que um homem faz com que a balança da desigualdade possa pesar um pouco também para o lado feminino.

Apesar dos desafios, são as mulheres da América Latina que estão liderando os maiores valores investimentos realizados (ainda que em startups cofundadas junto com homens). De acordo com o Crunchbase, 16% das startups fundadas em conjunto por homens e mulheres nesta região receberam investimentos, em comparação com 9% nos Estados Unidos e 8% na Europa.

Atualmente, a maioria esmagadora (81%) das executivas são mulheres brancas. Em segundo lugar (8%), aparecem as mulheres asiáticas; em terceiro (6%), mulheres negras; em quarto (3%), as hispânicas. Os dados são do relatório WWT 2020 da Mercer, que consultou 1.157 organizações de 54 países, incluindo o Brasil.

Os impactos ainda continuarão e por isso as mulheres precisam de apoio, suporte, iniciativas de preparo e capacitação técnica, tecnológica, emocional, de gestão de tempo e gestão profissional do seu negócio, facilitação ao crédito com carência e juros baixos, redes sérias de fomento ao Empreendedorismo Feminino para andarem de mãos dadas, enfim toda ajuda possível para essas corajosas e guerreiras.

“Se eu preciso de um serviço que é oferecido por homens e mulheres onde a qualidade e a faixa de preço são equivalentes por que não preferir um serviço de uma mulher? Porque não alimentar essa cadeia de mulheres que empreendem e minimizar sutilmente as dificuldades que elas já enfrentam?” (Joyce Moura)

 

 

 

 

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