Do estudo à produção: os procedimentos para desenvolver uma vacina  

Busca pelo combate ao SARS-CoV-2 colocou imunizações no centro das atenções, mas mesmo antes dos holofotes tecnologias avançam há décadas para erradicar doenças
Busca pelo combate ao SARS-CoV-2 colocou imunizações no centro das atenções, mas mesmo antes dos holofotes tecnologias avançam há décadas para erradicar doenças

Varíola, poliomielite, rubéola e difteria. Essas são algumas das doenças que foram erradicadas no Brasil graças às vacinas. O Plano Nacional de Imunização (PNI), regulamentado na década de 70, é considerado uma das mais relevantes intervenções em saúde pública do país, organizando, implementando e controlando a política de vacinação. Tudo começou nos idos do século XVIII, quando o médico sanitarista inglês Edward Jenner descobriu a primeira vacina do mundo, contra a varíola, em condições muito diferentes das de hoje, tendo em vista que, para a descoberta das primeiras vacinas contra o SARS-CoV-2, bem como outras imunizações mais recentes, a medicina registrou avanços que impactaram diretamente os processos e a criação das mesmas.

Para a aplicação das vacinas em grande escala, antes são necessários alguns passos, como explica Bruno Jaegger Laranjeira, professor das disciplinas de Microbiologia Clínica, Virologia e Micologia do Centro Universitário UniFanor. “Inicialmente precisamos encontrar um candidato à vacina e realizar estudos não-clínicos em animais. Em seguida, começa a fase clínica: primeiramente, avalia-se a segurança e as reações da vacina; depois, sua dose e sua imunogenicidade, ou seja, a capacidade de uma substância provocar uma resposta imune, como o desenvolvimento de anticorpos anti-medicamentos biológicos pelo sistema imune do paciente; após esta fase, a segurança da vacina é avaliada através de teste em grande população; por fim, ela é registrada nos órgãos reguladores nacionais”, define.

A celeridade com que a vacina para o SARS-CoV-2 foi desenvolvida é reflexo de um esforço mundial tanto financeiro quanto científico, segundo o professor do UniFanor. Esforço esse que já vinha sendo desenvolvido ao longo dos anos. “De uma forma bem inicial, vários governos, instituições e empresas começaram estudos sobre o coronavírus. Com a verba sendo satisfatória, o avanço na área da biologia molecular e o avanço nas tecnologias de síntese de vacinas podemos observar essa presteza no processo”, aponta.

O médico infectologista e professor da Estácio de Juazeiro do Norte, Pablo Pita, ressalta que a chegada da vacina sempre é acompanhada de algumas dúvidas e críticas, mas trazem consigo resultados extremamente relevantes para a saúde nesse momento tão crítico. Ele destaca que esses questionamentos acontecem ao longo da história, mas que grandes epidemias foram controladas, doenças sem tratamento específico foram erradicadas, e isso, sem sombra de dúvidas aumentou a expectativa de vida da população. “Essas condições criadas acabaram melhorando e auxiliando as populações, principalmente as mais carentes, a suportarem o enfrentamento de algumas doenças”, diz ele.

Mesmo em cenário de análises, vacina é sinal de esperança

O Ceará distribuiu, até o dia 25 de janeiro, 208.552 doses das vacinas Coronavac, produzida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e da Oxford/AstraZeneca, desenvolvida no Reino Unido e que contou com parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Conforme Bruno Jaegger Laranjeira, é um momento bastante importante para analisar uma série de fatores. “Como de praxe, os efeitos adversos, a elevação da imunidade específica protetora, a diminuição da transmissão, a relação entre a primeira e a segunda dose, entre outros dados, serão bem levantados”, conjectura.

Tal processo não é exclusividade das vacinas aplicadas no Brasil. “Em vários países, pesquisadores e governos começam a avaliar os dados do início da vacinação. Alguns estudos mostram que a produção satisfatória de uma resposta contra o vírus é melhorada entre 45 e 60 dias após a primeira dose. Observar efeitos que podem estar relacionados à vacina também é de suma importância”, pontua o professor do Centro Universitário UniFanor.

Pablo Pita ressalta que algumas doenças importantes são imunopreveníveis e com um contexto clínico relevante, a exemplo do tétano, hepatite B, poliomielite, sarampo, coqueluche, e uma série de outras doenças infecciosas que a vacina trouxe um ganho na diminuição do número de casos, controle e até mesmo a erradicação, com essas vacinas. “Sem sombra de dúvidas, a vacina para a Covid – 19 veio num momento extremamente oportuno, e estamos bastante esperançosos sobre o efeito das vacinas. Qualquer efeito que venha ocorrer para uma doença tão multifacetada como essa, em que não se tem ainda a gestão sobre quem vai agravar e ou até mesmo ter efeitos leves, a vacina vem oportunamente para trazer mais esperança”, pondera o infectologista e docente da Estácio de Juazeiro do Norte.

Diferentes tipos de vacinas  

Preparação biológica que fornece imunidade adquirida ativa para uma determinada doença, as vacinas previnem os efeitos de uma futura infecção ou mesmo podem atuar como terapia, como no caso do câncer. Mas há diferentes tipos de imunizantes, pesquisados com o intuito de atender às necessidades específicas da população. São eles:

Vacinas vivas atenuadas – são similares à infecção natural e criam uma resposta imunológica forte e duradoura. A maioria é eficaz com uma ou duas doses e protegem contra o patógeno (agente causador da doença) por longo tempo ou por toda a vida. Como possuem uma pequena quantidade do vírus enfraquecido, algumas pessoas com problemas no sistema imune, transplantadas ou com doenças crônicas devem passar por avaliação médica prévia. Exemplos: vacinas contra sarampo, caxumba e rubéola (vacina tríplice viral), rotavírus, varíola, varicela e febre amarela.

Vacinas inativadas – utilizam o organismo que causa a doença morto ou inativado, e possuem uma eficácia reduzida se comparadas às vacinas vivas atenuadas. São necessárias várias doses ao longo do tempo para promover a imunidade efetiva e contínua. Exemplos: vacinas contra hepatite A, gripe, pólio, raiva e SARS-CoV-2.

Vacinas de subunidade, recombinante, polissacarídeo e conjugado – estas utilizam partes específicas do patógeno para direcionar o sistema imune a reconhecer especificamente estas partes, desencadeando uma forte resposta imunológica. Podem ser utilizadas em quase todas as pessoas, inclusive aquelas com o sistema imunológico enfraquecido e doenças crônicas. Em alguns casos, são necessárias doses de reforço para obter a proteção contínua. Exemplos: vacinas contra doenças por Haemophilus influenza (tipo B), Hepatite B, HPV, doença pneumocócica, doença meningocócica.

Vacinas toxóides – utilizam a toxina (produto nocivo) produzida pelo patógeno, criando imunidade contra partes desse patógeno e direcionando o sistema imune a responder contra a toxina e não contra o causador da doença. Precisam de reforço para obter proteção contínua. Exemplos: vacinas contra difteria e tétano.

Vacina de DNA (vacinas de terceira geração) – são feitas de DNA recombinante que carregam uma parte do material genético do patógeno. Ao ser inserido na célula hospedeira, produzirá o antígeno a ser reconhecido pelo sistema imune, desencadeando uma resposta imunológica ativa. Estas vacinas ainda são investigadas para várias aplicações, incluindo terapia para o câncer, alergias, doenças autoimunes e doenças infecciosas. As principais vantagens são que não apresentam risco de infecção, possuem resposta imune, facilidade de desenvolvimento e de produção, são estáveis para armazenamento e transporte. Atualmente, não existem vacinas de DNA aprovadas para uso em humanos, mas algumas já foram aprovadas pelo FDA e pelo USDA para uso veterinário, incluindo uma vacina contra o vírus do Nilo Ocidental em cavalos e melanoma canino.

Vacinas de RNA mensageiro (RNAm) – considerada uma das tecnologias mais promissoras e pesquisadas já há décadas, este tipo de vacina é elaborado com partes da molécula do DNA genético do patógeno que, ao serem inseridas no corpo humano, fornecem ao organismo as instruções para produzir os anticorpos necessários para combater a doença, sem a inoculação direta do vírus vivo ou inativado. Ganhou destaque devido à sua potencial segurança, uma vez que o RNAm não se integra ao material genético do hospedeiro, não causando mutação na célula. Possui potencial para fabricação rápida, barata e escalonável, mas apresenta ainda o desafio da armazenagem e transporte, pois precisam ser conservadas entre -20 e -80 Cº. Exemplos: vacina contra a SARS-CoV-2.

 

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